Para além dos reflexos sanitários e econômicos da pandemia, profissionais de saúde do mundo todo – sobretudo psicólogos – têm observado um aumento de questões relacionadas à saúde mental. Isso é reflexo do quadro de instabilidade e incerteza promovido pelo avanço da doença e por tudo que é promovido para combatê-lo.
Defendido por profissionais de saúde diretamente ligados ao combate do vírus no mundo todo, o distanciamento social e o isolamento são as medidas mais eficientes para o combate à pandemia no momento – e por isso é imperativo que se contribua com essas iniciativas. Contudo, a diretora do Departamento de Psicologia da Sotiego, Dra. Soraya Oliveira, destaca que essa condição leva muitas pessoas a uma situação diferente da que vivem normalmente – em que se habituaram a sair de casa cedo e retornar somente a noite.
A intensificação no convívio pode gerar mais estresse e conflito, conforme afirma Soraya: “O mais comum é as pessoas ficarem mais tempo juntas aos finais de semana, mas ainda assim, sempre com programações. Gostamos de ir ao shopping, lanchar, fazer churrasco na casa de amigos. Com todo mundo em casa, as relações estão muito próximas e os conflitos são inevitáveis, por isso, as pessoas questionam as relações. Prova disso é que depois da onda do coronavírus na China, aumentou significativamente o número de divórcios no país”.
Além disso, quadros de depressão e ansiedade também surgem por conta de toda a mudança na rotina, das preocupações com a saúde, com a situação financeira, entre outras. Segundo ela, o sentimento que se desenvolve “é parecido com uma preguiça, mas não é! São sintomas depressivos que começam a dar sinais, por exemplo, de repente a pessoa não sente mais vontade de tomar banho, lavar o cabelo; acorda e passa todo o dia de pijamas, não escova os dentes. A casa começa a ficar sem cuidados e a desorganização externa reflete a desorganização interna”. Ela afirma que “as pessoas que relatam depressão sentem desamparo, tristeza, medo da morte e os pensamentos negativos vão tomando uma proporção bem maior que os otimistas.”
Por isso, a diretora recomenda que um bom caminho é estabelecer uma rotina. Ela afirma que “do ponto de vista psíquico, a rotina é estabilizadora. Por isso, é importante que a as pessoas tenham horário para acordar, para comer e para dormir. É importante desenvolver uma rotina de atividade física, seja alongamento, meditação, ioga e isso independe da idade”.
Cuidar da qualidade da alimentação também é fundamental, haja visto que muitas pessoas compensam a ansiedade aumentando o consumo de alimentos e bebidas alcoólicas, podendo chegar a compulsão. Ela destaca como o momento é de cuidado com a saúde – e isso inclui a alimentação, pois, segundo ela, “as pessoas ainda estão achando que estão em férias, bebem e fazem churrasco! É interessante entender que estamos em casa para nos proteger do vírus.”
Outra medida eficaz para melhorar o equilíbrio é limitar o consumo de informações a respeito da pandemia. Checar constantemente os números de casos e óbitos pode gerar ainda mais medo e ansiedade. Basta consultar as notícias uma vez ao dia para se atualizar.
A psicóloga Soraya Oliveira finaliza com um pedido: “gostaria de pedir que as pessoas ergam a cabeça. Iremos vencer esse vírus com o enfrentamento! O coronavírus veio silenciar o mundo e nos colocar de pé de uma maneira mais humana. Não vamos sair ilesos disso, na verdade, acredito que vamos priorizar a vida, o ser humano e, sobretudo valorizar as pessoas que a gente ama. O enfrentamento é a melhor forma de seguir.”
A Sotiego reforça o distanciamento social e o isolamento como sendo as medidas mais eficazes para que possamos não só diminuir a velocidade da propagação da doença mas também garantir que nosso sistema de saúde – e os profissionais que nele atuam – tenham capacidade de cuidar de todos os afetados pela pandemia.